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Master of Wine italiano vem ao Brasil para ministrar masterclass na Wine South America



Andreia Debon, da Itália


A Itália será um dos destaques da Wine South America, principal feira profissional na América Latina dirigida ao segmento vitivinícola, que acontece de 21 a 23 de setembro em Bento Gonçalves, Brasil. Durante os dias do evento, o Master of Wine italiano, Gabriele Gorelli, conduzirá um ciclo de 6 masterclass, levando os participantes a uma viagem pela Itália através de 36 rótulos de diferentes terroirs.


Os encontros acontecerão na enoteca italiana montada na feira, onde os visitantes também poderão conhecer 140 rótulos trazidos ao Brasil por algumas das principais importadoras de vinhos italianos, além de outros 47 ainda inéditos, apresentados por 11 importantes vinícolas do país europeu. As masterclasses acontecem nos dias 21, 22 e 23 de setembro, sempre às 14h30 e às 18h00. Outras informações, basta acessar www.italianwines.com.br


Gabriele Gorelli é único Master of Wine italiano. A qualificação é emitida pelo Institute of Masters of Wine no Reino Unido, e é reconhecida na indústria do vinho como um dos mais altos padrões de conhecimento profissional. Gorelli nasceu e foi criado em Montalcino, na Toscana. O vinho está em suas raízes através do avô, um pequeno produtor de Brunello di Montalcino. A participação italiana na 3ª edição da Wine South America é promovida pela ITA – Italian Trade Agency e faz parte de um amplo programa de iniciativas voltadas para o trade e o consumidor, com o objetivo aumentar a presença do vinho Made in Italy entre os brasileiros.


A jornalista da Bon Vivant, Andreia Debon, que vive na Itália, conversou com Gabriele Gorelli para saber mais como será a sua participação nesta ação e como a Itália pode ampliar o consumo de seus vinhos no Brasil. Confira:


Bon Vivant: Gabrielle, antes de começarmos a falar sobre vinhos italianos e sobre esta primeira ação na Wine South America, pergunto: você conhece o Brasil e seus vinhos?

Gabriele Gorelli: Nunca visitei o Brasil e estou muito curioso para conhecer, mesmo que seja por poucos dias. Degustei os vinhos brasileiros pela primeira vez em 2011 durante a Vinexpo, em Bordô, na França. Depois tive a oportunidade de provar diversas amostras durante o 5Starwines, que é um concurso que faz parte da Vinitaly. Visitar a principal região do vinho brasileiro será uma forma de conhecer melhor o produto.


Bon Vivant: Você vai participar da Wine South America para conduzir masterclass sobre vinhos italianos. É a primeira vez nesta feira que haverá um trabalho específico sobre vinhos da Itália, esse país que é tão amado pelos brasileiros. Quantas serão as apresentações e qual será o objetivo principal?

Gorelli: Serão seis masterclass, com três diferentes grupos de 12 vinhos. E, para organizar esse grupo de vinhos nós, juntamente com a ITA - Italian Trade Agency, procuramos envolver os importadores brasileiros que são embaixadores dos vinhos italianos e já tem em seus portfólios diversos produtos. Além disso, procurei organizar alguns produtos que ainda não estão presentes no Brasil e tem potencial para este mercado pelo seu perfil. Estas masterclass serão importantes não somente para promover os vinhos que os brasileiros já conhecem, mas, também, fazer novos negócios com proprietários de lojas de vinhos, de restaurantes e outros interessados em conhecer mais sobre os vinhos italianos. O objetivo principal será de mostrar os clássicos italianos, mas, não só, mostrar as potencialidades dos vinhos de outras regiões do país. A ideia é mostrar que o vinho italiano pode, sim, ser fácil de beber.


Bon Vivant: Qual será o perfil dos vinhos que serão apresentados?

Gorelli: Em cada uma dessas masterclass estarão presentes vinhos de pelo menos cinco regiões italianas. Vinhos espumantes, frisantes, brancos e, principalmente, tintos, já que é este tipo de produto o preferido pelos brasileiros. Apresentarei os vinhos de denominações importantes, como Barolo, Barbaresco, Brunello e Amarone, mas também os produtos de territórios um pouco menos conhecidos, como Monferrato, Roero, Nero Buono del Lazio, Campania, Puglia, entre outros. Também inseri alguns vinhos mais “particulares”, como um Pinot Noir elaborado em Verona.


Bon Vivant: A Itália possui uma diversidade imensa de vinhos, mas os brasileiros, na sua maioria, acabam conhecendo poucas tipologias. Conhecem o Lambrusco, o Chianti, Valpoliccela. Porém, os vinhos de outras regiões, como a Campania, por exemplo, onde há vinhos muito bons e desconhecidos. Como fazer esse trabalho de comunicação?

Gorelli: Deve-se apresentar o território e as suas potencialidades. Por exemplo, quando você chega na Campania logo fica fã dos vinhos dessa região. E não só pelos vinhos em si, mas em ver como as pessoas inserem o vinho no seu estilo de vida, como a bebida faz parte do seu dia-a-dia e como eles o harmonizam com os pratos da gastronomia local. A Itália possui diversos territórios que não conhecidos no exterior e seria muito importante começar a promover. É claro que é muito mais fácil comunicar os vinhos de uma região que possui algum diferencial, como um vulcão, uma ilha ou uma montanha. Mas é possível fazer esse trabalho como todas as regiões, começando sempre pela apresentação das riquezas do território e pela sua cultura.

Bon Vivant: Morando aqui na Itália e trabalhando com a comunicação do vinho italiano tenho certa dificuldade em entender o motivo de tantas DOCs, muitas delas em um pequeno território. Você não acha que isso dificulta a divulgação do vinho italiano no mundo, falo neste caso do Brasil?

Gorelli: As Docs são muito importantes, mas acabam sendo um obstáculo para a comunicação dos vinhos. Existem muitas regras e territórios. E muitas dessas Docs até existem, mas é difícil encontrá-las no mercado. Isso complica muito a situação. O que acontece muitas vezes: muitos produtores estão buscando denominações mais amplas e permissivas, nas quais é possível ter mais liberdade na hora de elaborar um vinho e, a partir daí acabam criando fenômenos, como, por exemplo, os vinhos Super Toscanos, que tem um denominação mais baixa como nível qualitativo legal, mas que tem uma qualidade como produto muito boa. Muitas vezes um brend regional é muito mais forte do que um brend mais específico. Explico: por exemplo, na Sicília há Docs muito específicas que dificilmente conquistam um grande número de consumidores. Então o ideal seria fazer Sicilia DOC. Ficaria muito mais fácil porque o consumidor compra a região. Por que o Lambrusco deu certo? Porque é um vinho que tem um caráter somente seu. Mas existem diversos estilos de lambrusco, o doce, o frisante, o seco, mas, no final é tudo Lambrusco. É um vinho simples de explicar e de entender, por isso faz tanto sucesso. É assim que deve ser a comunicação do vinho para atingir um maior número de pessoas.


Bon Vivant: Li em uma das suas entrevistas aqui na Itália que você tem como missão pessoal, sendo o primeiro Master off Wine italiano, se dedicar a valorizar o vinho italiano pelo mundo. Quais são os seus planos e como você pretende fazer isso?

Gorelli: Quando eu obtive o título de Master off Wine em 2021 eu disse que teria muito prazer em ser a “cara” do vinho italiano pelo mundo. E por diversos motivos, um deles é o de que eu sou mais conhecido no exterior do que na própria Itália. E isso facilita muito este trabalho. O que me interessa é fazer uma divulgação em conjunto com os consórcios e demais entidades. E essa parceria com a Italian Trade Agency no Brasil é o primeiro projeto institucional no qual eu vou apresentar a Itália no exterior. E isso é muito importante.


Bon Vivant: Em alguns países o consumo de vinhos vem diminuindo, na própria Itália, por exemplo. Em outros, no entanto, aumenta, como no Brasil que durante o período da pandemia aumentou em um litro per capit. Como você observa esse movimento do mercado?

Gorelli: Eu acredito que seja um movimento normal do mercado. Em países nos quais o vinho já é parte da cultura, a bebida tem um consumo historicamente mais alto, como a Itália e a França, por exemplo. Então, é fácil que esse consumo caia com o passar dos anos. Há anos atrás se bebia mais porque haviam menos limitações e menos conhecimento sobre a saúde. O foco era a quantidade, agora é a qualidade. Estamos bebendo menos e melhor. Hoje na Itália se consume cerca de 40 litros per capita. Mas é um consumo geral, a grande maioria das pessoas bebe vinho. Diferente de outros países onde a bebida não tem um consumo difuso. Eu acredito muito nos mercados emergentes e naqueles que ainda não mostraram todo o seu potencial. Como, por exemplo, os Estados Unidos e também o Brasil.


Bon Vivant: Como trabalhar melhor esse segmento que é fundamental na hora de decidir entre um vinho e outro?

Gorelli: Eu acredito que a chave seja não falar somente de vinhos, mas de italianidade. E o que significa isso? Significa fazer como faz um italiano e uma italiana. E divulgar o vinho junto com os setores italianos que são muito conhecidos no mundo, como a moda, o design, a gastronomia e o bem-viver. E é por isso que eu acredito que o vinho italiano é tão apreciado na Ásia e no Japão, por exemplo. Em todo o mundo o estilo italiano é o que chama a atenção.


Bon Vivant: Um assunto muito em alta são os vinhos biológicos, orgânicos...como a Itália está posicionada neste sentido?

Gorelli: A Itália está à frente de outros países quando o assunto é a conversão dos vinhedos para biológico e já temos muitos vinhos elaborados sem intervenções químicas no vinhedo. Esse é, também, um dos grandes diferenciais dos vinhos italianos. Porém, eu acredito que não devemos promover este tipo de vinho somente por esse motivo. Muitas vezes as vinícolas começam a comunicação de um vinho logo dizendo que é um vinho biológico, como se isso fosse atestar a qualidade. Um vinho deve ser antes de mais nada correto tecnicamente. Assim vai conquistar o consumidor.


Bon Vivant: Como e quando nasceu o seu amor pelo vinho?

Gorelli: Meu avô fazia vinho. Tinha meio hectare de videiras em Montalcino. Eu vivia nesse mundo e logo percebi que havia uma barreira entre o produtor e o consumidor. Então, tomei a decisão de começar a estudar línguas e estar preparado para estar entre esses dois públicos para poder explicar melhor sobre o vinho. Depois de ter feito o curso de sommelier e participar de diversos eventos e degustações - procurei estudar muito antes – conheci o instituto e vi que era um trabalho de alto nível e então, mesmo sabendo que seria difícil de obter o título, decidi fazer este percurso que deu certo!


Saiba mais

Os brasileiros vêm apreciando cada vez mais os vinhos da Itália. Entre os principais itens italianos adquiridos pelo Brasil em 2021 no segmento de alimentos e bebidas, os vinhos destacam-se com ampla vantagem sobre as demais categorias. De acordo com dados da ITA - Italian Trade Agency, o aumento registrado em relação a 2020 foi de 19,4% em valor - de USD 36,0 milhões para USD 43 milhões -, e de 9,8% em volume, passando de 11,2 milhões de litros para 12,3 milhões de litros.


CREDITO DA FOTO: ANDREA LIVERANI/DIVULGAÇÃO


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