Andréia Debon, da Itália
Veneza é, certamente, a cidade mais incrível e admirada do mundo. Há séculos está entre os lugares mais visitados por turistas de todas as partes. Cada um dos canais, cada uma das pontes e cada diferente ângulo exerce um fascínio único e especial a quem a visita.
Além de ser única, Veneza também faz parte da história do vinho na Itália e no mundo. Durante séculos, a cidade sem terras e sem vinhedos esteve entre os mais importantes centros comerciais de vinho do mundo.
A República da Serenissima era considerada a rainha dos mares e estabeleceu um intenso comércio principalmente com o Oriente (a partir dos anos 1300). E um dos produtos comercializados era o vinho. A principal variedade era a Malvasia - ainda hoje alguns canais e pontes tem o nome de Malvasia: Calle de la Malvasia e Ponte de la Malvasia para recordar desta época. Na Veneza dos anos 1800 estima-se que havia cerca de 300 hectares de vinhedos plantados na ilha. Hoje restam menos de 10%.
Com o passar dos anos, a cultura do vinho foi se ampliando nos arredores de Veneza, e em todo o Vêneto. Dezenas e dezenas de hectares plantados, novas variedades surgindo e quase uma monocultura aparecendo (a uva Gleva para a elaboração do Prosecco, hoje o vinho italiano mais exportado).
Giardino Mistico degli Scalzi, um espaço único
Foi então que, em 2010, através do Consórcio Vinhos de Veneza, em parceria com as Universidades de Milão e Pádova e do Instituto Experimental de Viticultura de Conegliano, tomou forma um projeto para dar novamente vida aos antigos vinhedos históricos de Veneza e, com isso, preservar e valorizar o patrimônio ampelográfico da antiga cidade.
Um desses vinhedos históricos está localizado bem próximo a estação de trem Santa Luzia (porta de entrada de Veneza). Se chama Giardino Mistico degli Scalzi (Jardim dos Carmelitas Descalços), um espaço único, imprevisível. Você abre o pequeno portão de entrada e parece chegar em outro lugar que nada tem a ver com Veneza. Silêncio e muito verde.
Neste jardim, além de plantas medicinais, frutíferas e oliveiras, há um vinhedo experimental, no qual estão plantadas 17 variedades diferentes de uvas. Entre as variedades plantadas estão diversas Malvasia e Raboso, cepas que até bem pouco tempo, antes da ascensão da Glera, eras uvas muito importantes para a região.
Outro objetivo do projeto, iniciado em 2014, é fazer com que os frades voltem a elaborar o seu próprio vinho – como acontecia nos anos 1800. A primeira produção de vinhos do jardim místico aconteceu em 2018. São mil garrafas, parte é consumida pela ordem dos frades e outra parte é vendida. O Giardino Mistico degli Scalzi é aberto ao público. Para visitar é preciso fazer reserva. Contato: info@giardinomistico.it
Os vinhos do terroir Veneza e arredores
Em recente evento com a imprensa, o diretor do consórcio dos Vinhos de Veneza, Stefano Quaggio, apresentou as DOCs e DOCGs que fazem parte do grupo.
Atualmente, no terroir veneziano, que compreende as províncias de estão presentes diversas Denominações de Origem, sob a orientação do Consórcio dos Vinhos de Veneza., são diversas as tipologias de vinhos: Malanotte Docg e Lison Docg, dedicadas exclusivamente para valorizar dois vinhos autóctones, Raboso e Friulano, respectivamente; Lison-Pramaggiore Doc, Piave Doc e Venezia Doc, que elaboram vinhos brancos e tintos com uvas autóctones e internacionais.
Outra variedade de uva que vem se destacando na região é a ‘Incrocio Manzoni’, que é um cruzamento entre as variedades Riesling Renano e Pinot Bianco. A cepa foi criada pelo professor Luigi Manzoni na época em que trabalhava na Escola de Enologia de Conegliano, a mais antiga da Itália.
Mais informações sobre os vinhos de Veneza podem ser obtidas pelo site www.consorziovinivenezia.it
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